terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lettera agli studenti

6 settembre 2010
Cari Studenti,
bentornati, e benvenuti ai nuovi iscritti.
Dal primo novembre del 2010 non mi troverete più tra i vostri docenti, perché ho deciso di andare in pensione anticipatamente dando le dimissioni volontarie dall'università.
Ci tengo a comunicarvi ufficialmente e sinceramente questa notizia perché sappiate con chiarezza e certezza il motivo della mia sparizione. Viviamo, infatti, in un'epoca in cui la menzogna, la volgarità e l'oblio informano la comunicazione e formano addirittura la nostra educazione.
Continuo altrove e altrimenti a lavorare per la giustizia e la compassione mediante il sapere umanistico.
Vi saluto assicurandovi che l'unica parte dell'università dalla quale non mi sono dimesso è la vostra. Anche se non mi avrete mai incontrato e conosciuto.
La parte migliore della mia lunga carriera accademica è segnata, infatti, dai 4 anni di formazione in Filosofia presso la nostra Facoltà, dal 1964 al 1968. Allora ho vissuto la sapienza come un convivio e una famiglia. Nella educazione alla conoscenza con gioia, rispetto e speranza. Insieme ai miei indimenticabili compagni di studio e ai nostri maestri. Voglio ricordarvi i nomi per me più importanti tra loro: Emilio Garroni, Guido Calogero e Tullio De Mauro; Santo Mazzarino e Arsenio Frugoni; Giulio Carlo Argan e Walter Binni.
Poi, per quaranta anni, ho vissuto la professione accademica come uno straniero in terra straniera. Tanto che mi sono sentito più ad agio nelle università spagnole e egiziane, statunitensi e slovacche, giapponesi e argentine, che in quelle patrie.
È per questo motivo che considero ancora, e sempre, la condizione studentesca come quella più fortunata nell'università. E perciò ho sentito in questi anni voi come i miei veri colleghi.
Anche se proprio per voi, è diventato sempre più difficile vivere questo luogo come sede della conoscenza, della familiarità, del rispetto e della gioia.
Vi chiedo, in ultimo, di non perdere speranza, in voi stessi e nella comune repubblica, che sembra tramontare sull'orizzonte civile degli italiani, invece che venirci incontro come "il sole dell'avvenire". Sappiate che solo voi potete ogni volta che lo vogliate far risorgere il desiderio e il fervore di un "brave new world", come scrive Shakespeare ne La Tempesta. L'utopia di un "meraviglioso mondo nuovo", al quale tutti abbiamo diritto. E per il quale serviamo noi letterati: per poterlo immaginare e tradurre. E per indicarlo come il valore finale di una educazione che non può finire mai, come ci hanno insegnato i nostri antenati latini.
Scrivetemi, se volete. Vale.
armando gnisci
agnisci@yahoo.it

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A literatura mundial como futuro da literatura comparada

…Sic rerum summa novatur
semper, et inter se mortales mutua vivunt.
Così l’insieme delle cose sempre
si rinnova, e i mortali vivono insieme le cose tra loro comuni.

Lucrezio, De rerum natura, II, 75-76

A partir da proposta que o título deste artigo contém, parece-me essencial definir o que entendo como literatura mundial, bem como a razão e o modo de estudá-la hoje.

Para corroborar tal proposta, recorro a Auerbach, em 1952, em Philologie der Weltliteratur, e à pergunta feita por Michel de Montaigne, que há de guiar-me nesta reflexão: Que sais-je?

O que é a literatura mundial hoje? Esta é a pergunta que procurarei responder, reinterpretando criticamente a história deste conceito desde a pergunta a que me referi no parágrafo anterior, passando pelas reflexões de Auerbach, e mantendo o ano de 1952, como o ponto de partida para a atualização da nossa consciência histórica.

Auerbarch definiu a importância e o valor da consciência histórica européia a partir da filologia:
Isto é o que somos; o que nos tornamos na nossa história; só nela podemos permanecer os mesmos e ainda assim nos desenvolvermos; demonstrá-lo de modo penetrante e inesquecível é o propósito dos atuais filólogos do mundo. Adalbert Stifter ao fim do capítulo “L’avvicinamento” em Estate di San Martino, faz com que um de seus personagens diga a seguinte frase: “Seria altamente desejável que, ao fim de uma ventura humana, um espírito pudesse reassumir e abraçar com o olhar a inteira arte do gênero humano, desde a sua criação até o seu fenecer.” Stifter pensa que apenas na arte figurativa; nem creio que se possa falar mesmo do fim da humanidade. Parece-nos que ele se refere a um tempo de conclusão e de execução que permite um olhar panorâmico antes impossível”[1].

A literatura mundial enquanto conceito sobrevive em um mundo radicalmente diferente daquele em que Auerbach escreveu, não apenas pela existência da assim chamada globalização, mas, sobretudo, no que diz respeito a um ponto de vista “espiritual”: a consciência histórica mundial de um literato europeu hoje, no século XXI; que já não é mais a de Auerbach, de Thomas Mann, de T. S. Eliot e de Benedetto Croce, porque esta se revela “reformada”– entre tantas outras reformas – por uma descolonização da mente européia, pós-burguesa e extra-européia, que Auerbach e Croce jamais poderiam conceber. Ainda que aquela geração tivesse convivido com o início da descolonização de que falo.

A atual cultura literária mundial não é mais um sonho, conforme foi anunciada nos escritos de Goethe, mas uma indústria e um mercado, como Marxs e Engels preconizaram. Nela a mundialização se completou, e, talvez, sem mais esperanças confiáveis e ideologias incômodas, lançou-se a um futuro aberto, que podemos chamar de “laico”, ainda que de modo imperfeito.
Por “laico” entendo o que nos foi transmitido por Tito Lucrecio Caro, que, não por acaso, cito na epígrafe a este artigo. “As coisas mandarão luz às coisas” significa que para todo o futuro, desde Lucrécio até nós, e mesmo no futuro daqueles que serão leitores posteriormente, cumprir-se-á o mandato do De rerum natura, ou seja, o conhecimento será fruto de um intercâmbio de luzes entre as coisas.

O nosso século pode ser intitulado “sistema-mundo”, segundo o sociólogo americano Immanuel Wallerstein; uma época em que o universalismo europeu, de descendência goethiana, chegou ao fim.

O que nos cabe fazer, literatos e leitores do século XXI, mas de uma geração nascida e formada no século XX? Por um lado, há que aceitar respeitosamente essa hereditariedade européia, por outro, há que transmiti-la criticamente, a contrapelo, como sugeriu Benjamim, e revisitá-la de modo absolutamente crítico.

A descolonização do “espírito europeu” começa como uma crítica do desejo de potência eurocêntrico, irradiado por todo o planeta. Desejo que surgiu com a formação dos estados nacionais e se expandiu como uma estupenda visão imperialista que se apossou do mundo conhecido já em 1522, com a expedição espanhola de Magellano.

Se nos anos 60 do século XX, parecia-nos que, nas universidades, não havia nada mais a estudar além de páginas de uma historiografia da dominação, em outras partes, os anos após a segunda guerra mundial revestiram-se de novos valores; aqueles do pensamento anticolonial, que acompanhava a luta dos países oprimidos para livrarem-se do colonialismo europeu, que só em parte corresponde ao que hoje se denomina “Estudos Culturais”.

Tratava-se um pensamento europeu, de Bertold Brecht a Sartre, até a um inédito Gramsci, descoberto e depois venerado pelos anglo-indianos dos Subaltern Studies anglo-indiani[2]; mas, sobretudo, extra e antieuropeu, de Ho Chi Min, Frantz Fanon, Aimé Césaire, Agostinho Neto, dos miti eroici da revolução cubana, de Toni Morrison, Salman Rushdie, Èdouard Glissant, Ngugi wa Thion’go, Derek Walcott, Eduardo Galeano, Roberto Fernández Retamar e tantos outros.

Ao usar a palavra “antieuropeu”, não pretendo referir-me aos terroristas que habitam os nossos televisores, mas a uma esfera de encontros pacíficos entre seres de culturas conhecidas e opostas da era moderna. Encontros em que os ex-colonizados têm a oportunidade de falar aos ex-colonos e serem ouvidos. Condição esta que dá aos europeus a chance de aprender a ouvir. Uma ausculta que, em cinco séculos, fomos incapazes de conceber.

Hoje, também nós, italianos, podemos ler a poesia de Agostinho Neto, que guiou a nação angolana na guerra pela libertação do colonialismo português. Nos versos que reproduzo, pode-se inferir a presença do europeu através da descrição da vida do povo colonizado:

Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa

Os farrapos completam
a paisagem íntima

O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante

Depois as doze horas de trabalho
Escravo

Britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
à chuva
britar pedra
acarretar pedra

A velhice vem cedo

Uma esteira nas noites escuras
basta para ele morrer
grato
e de fome.

O poema contém questões que cabem a todos os países colonizadores responder, não apenas Portugal.

Ao enxertar criticamente “ao desejo de potência” dentro do fenômeno histórico plurissecular do colonialismo europeu na modernidade, que parecem não ter fim- o colonialismo e a modernidade-, busco encontrar o nexo, o sentido do que havemos denominado “o fardo do homem branco”.

Para entender o significado da expressão, “the white man’s burden”, há que ler a poesia homônima de Rudyard Kipling, escrita em 1898, em honra dos E. U. A., que andavam em conflito militar com o decadente, e então reduzidíssimo, império espanhol: na parte do Atlântico, nas Caraíbas, invadindo Cuba e anexando as Antilhas, e da parte do Pacifico, invadindo as Filipinas. Guantanamo, que volta e meia aparece na agenda de notícias dos jornais, devido a seu famigerado cárcere, é um resíduo colonial dos E. U. A. em solo cubano.

A interpretação deste poema de Kipling sustenta que ele anuncia e celebra a passagem do poder colonial da velha Inglaterra para a jovem democracia americana, em nome dos valores sacros e comuns do homem branco e anglo-americano (W.A.S.P. = White– branco; A. S. – anglo-saxônico; Protestant – protestante).

O fardo do homem branco, portanto, consiste na missão de civilizar os povos ainda “bárbaros” e levar-lhes a democracia ocidental, assim como nós, italianos, fizemos na Somália de 1950 a 1960, com a concessão da ONU, ou como os americanos o fazem agora no Iraque e no Afeganistão.
A “civilização ocidental” de Agostinho Neto continua a fazer o contraponto inexorável ao desejo de potência e à máscara do fardo do homem branco, de Kipling.

A reação à colonização cultural imposta pelos países colonizados torna necessário que se veja a literatura produzida fora do circuito das nações européias de uma forma diversa. Não mais como textos literários extra-europeus pertencentes a literaturas exóticas e menores. Hoje estamos em condições de conceber e fruir a literatura mundial de modo que cada uma das literaturas nacionais européias seja vista como uma Provincia mundi.

No fim do ensaio sobre a filologia da literatura mundial, Auerbach cita uma frase de Ugo di S. Vittore, teólogo agostiniano do século XVII:

“Magnum virtutis principium est, ut discat paulatim exercitatus animus visibilia haec et transitoria primum commutare, ut postmodum possit etiam dereliquere. Delicatus ille est adhuc cui patria dulcis est, fortis autem cui omne solum patria est, perfectus cui mundus totus exilium est…”[3]

Auerbach recorre ao texto filosófico medieval para propor um pensamento que define com a expressão Paupertas e terra aliena. Tal pensamento nos habilita a crer, em 1952, que: “a nossa pátria filológica é a terra [die Erde]; não pode mais ser a nação […] Devemos retornar, em circunstâncias diferentes, ao que a cultura medieval possuía antes da formação das nações: o reconhecimento de que o pensamento não tem nacionalidade.” [p. 71].
Há mais de um decênio que se discute a superação da dimensão nacional no golfo místico da globalização, ainda que se não de certo no exílio do transcedental terrestre invocado por Auerbach.

Proponho que reassumamos a cultura de hoje na consideração histórica que parte da consciência cósmica e de espécie[4] para poder conceber uma consciência mundial e para adquirir a nossa consciência européia, acolhendo dignamente toda a responsabilidade[5] desta condição. Por fim, estaremos aptos a conquistar uma consciência critica da própria nacionalidade, a partir, primeiramente, daquela que é linguística[6].

Advogo que, contemporaneamente, adotamos um modelo de relações que pode ser definido pela sigla NEM, isto é, pela ordem de importância, Nação, Europa, Mundo. A este se contrapõe uma outra, inversa, MEN, em que a ordem valorativa é contrária.

A Nação torna possível falar, pensar, ler, traduzir e entender; essa se revela a razão histórica de ser e da própria materialidade primária da comunicação, a da língua. A Europa constitui a nossa mente e suas imagens comuns, que são diferentes daquelas de outras civilizações. O Mundo reassume tudo no seu horizonte último e ordena tudo que temos certeza de saber.

Os dois percursos formam traços contínuos de duas frentes que se entrecruzam, incessantemente.

No início do segundo decênio do terceiro milênio, pode-se dizer que há uma mundialização literária em muitas partes do globo, que não é mais aquela sobre a qual Auerbach se interrogava, ainda que os acadêmicos continuem a debatê-la nessa mesma esfera. A Literatura Mundial não teria razão de ser se fosse só o argumento e domínio das cátedras e institutos de pesquisa acadêmica[7] e se não fosse, sobretudo, uma comunidade sempre aberta e mundial de leitores.
Hoje, a ideia e a realidade de uma Literatura Mundial parece se assemelhar um pouco àquela sonhada por Goethe, escritor-leitor, mais que erudito, mas de um modo menos entusiasta e mais realista, ainda que seguramente mundial em um sentido claro e completo.

A mundialização literária ainda é tímida. Há, por exemplo, pouquíssimos leitores na África, ainda que haja muitos escritores africanos que são lidos por leitores europeus e de muitas outras partes do globo. Recordo-me apenas de um nome de tal penetração, o de Ahmadou Kourouma, narrador francófono da Costa do Marfim, morto em 2003, que como a maior parte dos escritores africanos escreveu para a África inteira, como uma grande pátria e não apenas para a sua própria nação. A esta identificação pan-africana, os escritores do norte da áfrica parecem fugir, como, por exemplo, o Premio Nobel (1988) egípcio Nagib Mahfuz.

Os escritores africanos, sul-americanos e asiáticos têm sido lidos em todo o mundo, entretanto, e muitos deles são migrantes e estão no exílio, como Chinua Achebe, Wole Soyinka, Ngugi wa Thiong’o, ou o Nobel chinês (2000) que vive na França, Gao Xingjian. Estas “injustiças” fazem parte da história de todas as literaturas, porém, em nosso tempo, TAM uma dimensão mundial. Nós, literatos, devemos fazê-la pública, “dizendo a verdade”, conforme nos ensinou Edward Said[8], e contra isso, devemos reagir, começando por nossa própria casa, e não pensando que ela é menos imune à infestação da intolerância em relação aos escritores. Essas injustiças são fruto do nosso tempo; o tempo da mundialização da vida da espécie; o tempo da globalização do regime capitalista. Uma face deformada da mundialização que não é vista pelos cidadãos como emancipação espiritual e como crescimento moral, mas como sistema de domínio generalizado e incontestado dos aparatos dos mercados fiananceiros que determinam as políticas dos estados nacionais e a nossa ventura pessoal. Descolonizar e mundializar as mentes torna-se a única prática civil que podemos contrapor a essa nova forma de “vontade de potência”.

A globalização da indústria cultural, de fato, sobrepõe-se a uma barragem moral progressiva e generalizada, determinada pela indústria do espetáculo e pela comunicação de massa que define cada produção cultural como um evento comercial de acordo com a vontade e controle do poder econômico-político. O que fazer? Não podemos, certamente, nos alinhar de um modo apenas teórico e impulsivo em favor da mundialização dos leitores africanos, como se esta fosse auspiciosa— um adjetivo indefensável e hipócrita, e, portanto, útil em um caso como este; em que se prescinde das questões e das soluções das carências da fome, da sede, das doenças, dos direitos humanos e civis, da estabilização e do bem-estar das pessoas e nações em todos os países oprimidos e explorados das “zonas injustiçadas” do planeta. Mediante tal quadro, nos cabe trabalhar por um aumento da formação humanística dos cidadãos dos países em que vivemos e daqueles outros com os quais possamos contribuir. A começar pela Itália, que é a última nação naquele ramo do desenvolvimento civil, no grupo das nações “ricas” do mundo.

Tudo isto serve pra mostrar o segundo ponto de diferença e de evolução do meu discurso em relação à ideia de Literatura Mundial que Auerbach sustentava em 1952. Refiro-me, portanto, ao segundo ponto depois da mundialização literária conquistada por aquela parte de minha geração que aprendeu o colóquio com os mundos dos escritores africanos, latino-americanos, caraíbas, asiáticos, além daquele dos europeus e norte-americanos. Os que a aprenderam, difundiram-na o mais amplamente possível, e os que não a aprenderam, poucotiveram o que dizer. Ela está presente hoje, em nosso panorama literário e civil, ainda que pouco a considerem ou usem-na como o “caminho para a mundialização”, preferindo vê-la e reduzi-la a uma visão “especialista” pós-colonial, e tratá-la como um campo erudito real, que abrange as literaturas nascidas após o fenômeno do colonialismo, mas que se constituíram ainda em sua vigência. Este modo de entender e protocolar o colonialismo, a sua importância, seu destino e seu conhecimento, leva-o a ser considerado, na Europa, um fenômeno secundário, colateral e, portanto, “especialista” da história da civilização ocidental.

Depois da Segunda Guerra Mundial, em 1949, no início do boom econômico, foi lançada na Itália uma coleção de textos canônicos de todas as literaturas, antigas e modernas, européias e extra-européias, a “Biblioteca Universale Rizzoli”. Ela foi responsável pela formação de uma geração de leitores “universais” e para-escolásticos, que aderiam, ser saber, ao ideal de Goethe, ao invés daquele de Auerbach, centrada, como já vimos, na apreciação dos estudos filológicos e literários, e com o intuito de reformar e adequar as condições da cultura literária no pós- guerra. O lançamento da coleção tornou-se uma oportunidade de dar forma a uma “autoeducação literária”, que se emparelhava com o currículo obrigatório das escolas.

Para muitos, como eu, a coleção significou um encontro com os escritores importantes do mundo: alemães, franceses, anglo-americanos, russos. No entanto, hoje, posso dizer que ela era também “eurocêntrica”, embora se afirmasse “universal”, posto que ignorava os autores da América Central do Sul, com exceção de Machado de Assis. Ainda assim, foi responsável pela mundialização de minha mente, uma vez que educava para a liberdade do imaginário, por meio da autoeducação literária; ao mesmo tempo em que procurava e assegurava um horizonte terrestre mediante uma espécie de expectativa, de “esperança sacra”, em um mundo que tivesse a literatura como a linguagem comum do imaginário. Hoje, em 2010, posso afirmar que o estudante italiano só tem essa oportunidade através das novas mídias, como a internet, porque a escola está empobrecida enquanto instituição.

A evolução da leitura literária na Europa depois da Segunda Guerra Mundial representou um passo adiante na nossa consciência histórica e ensinou a uma parte dos jovens europeus a meta do século a tornarem-se “leitores mundiais”; abertos a todas as vozes e à escritura dos mundos até agora conhecidos, traduzidos e não auscultados, uma vez que eram oprimidos. Ao mesmo tempo, ensinou-lhes a ser parte de um dos mundos do “mundo”.

Esta evolução tornou-lhes aptos a tentar responder a cinco séculos de questionamentos ainda sem resposta, lançados a nós, europeus, que nos comunicamos em todas as línguas do mundo, mas, sobretudo, na nossa; assim como o deformado e selvagem Calibã, da Tempestade, de Shakespeare, anunciou, quando agradeceu Próspero por ter-lhe ensinado o inglês, de modo que pudesse, assim, maldizê-lo melhor em sua própria língua.

Desde a minha geração, a Itália tem tido a oportunidade de receber emigrantes de todas as nações que passaram pela colonização. Eles vêm à procura de um trabalho digno visto que seus países, “independentes”, estão à mercê das necessidade e consumo dos países ricos.

Em 1987, o mesmo ano em que venceu o prêmio Nobel, o poeta russo Iosif Brodskji, exilado da União Soviética desde 1972, escreveu o ensaio “A condição que chamo de exílio” para uma conferência que ocorreu no mês de dezembro do mesmo ano, em Viena. Aconselho-os a lê-lo. É um texto breve, mas importante, que nos coloca diante da graça do humanismo em sua dimensão histórica, literária e mundialista:

“Demos falar porque necessitamos dizer e repetir que a literatura é uma mestra de finesse umana, a maior de todas, seguramente melhor que qualquer doutrina; dizer e repetir que, ao bloquear a existência natural da literatura e a atitude das pessoas a aprender as lições por ela dadas, uma sociedade reduz seu próprio potencial, diminui o ritmo de sua própria evolução e, talvez,coloca em perigo a sua própria tessitura.” (pp.15-16).

Penso que o escritor martinicano Édouard Glissant encontrou outra medida do nosso tempo, chegando a construir uma poética do Mundo Novo no qual vivemos todos juntos: a da crioulização. Em Poética do diverso, ele afirma que o mundo se criouliza, tornando-se consciente de que a humanidade abandona, ainda que com dificuldade, a visão de que uma identidade só é válida e reconhecível a partir da exclusão de outras identidades.

Considerando-se que Glissant é um escritor antilhano, que escreve em francês e descende de escravos, e não um filólogo alemão, e nem mesmo um religioso, de que modo ele fala de crioulização? Vejamos:

“A crioulização exige que os elementos heterogêneos, em relação, se valorizem reciprocamente, sem a degradação ou diminuição do ser. Porque a crioulização é imprevisível, enquanto que os efeitos da mestiçagem são mensuráveis. A crioulização é a mestiçagem com o valor adicional do inesperado.”[9]

A crioulização é o que também sucede na Europa, sobretudo nos últimos trinta anos, provocada pelos escritores migrantes que contribuem para a produção de um novo imaginári comum nas línguas européias.

A uma pergunta minha, em mensagem particular, sobre qual era o seu idioma natal e se ainda se comunicava através dele, o escritor de origem siberiana Nicolai Lilin, que vive há alguns anos em Piemonte, respondeu:

“A língua russa é minha língua materna. Nunca tive a oportunidade de aprender os dialetos siberianos em que meus avós se exprimiam, porque, quando eu nasci, a nossa sociedade já não os usava mais, tudo era dominado pela língua russa. Agora a língua que mais uso é a italiana, quase não falo mais em russo, apenas com os meus familiares, em umas poucas ocasiões. Assim, posso dizer que a primeira língua para mim é a italiana; escrevo em italiano e me relaciono em italiano, até meus sonhos e pensamentos agora são em italiano.”

Ler a obra de Lilin, para nós, italianos, significa expor-se ao imaginário russo-siberiano, que ele nos trouxe através de nossa língua comum. Alguém tem medo de Nicolai Lilin ou de Gezim Hajdari, poeta albanês, que em 1997 venceu o Premio Montale? Sim, certamente, como se faz para decidir colocar em risco a própria “identidaderia”, a nobre e antiga identidade italiana, para unir-se ao brodo inconsciente e regressivo da crioulização com os imigrantes? É com respeito a este o dilema que nos dividimos. Para mim, a crioulização é uma face significativa da mundialização. A defesa retórica de um patrimônio genético-identitário italiano leva apenas ao retrocesso, pensando-se estar firme, e detém-se no presente.
Muitos escritores antilhanos colocaram em cena, nos Novecentos, a resposta de Calibã, cidadão do “Bravo Mundo Novo”, aos novos “senhores” europeus, a partor de Próspero, em sua língua imperial: em inglês, espanhol, em francês, sobretudo. Com o português, que participa com o modernismo dos anos 20, com a resposta antropófaga. Partamos do Brasil: em 1924 o poeta Oswald de Andrade publica o “Manifesto da poesia Pau-Brasil”, no qual afirma: “Tudo digerido”. Do que fala? No “Manifesto Antropófago”, de 1928, mostra o corpo digerido. No “ano 374 da deglutição de Vescovo Sardinha” (p. 34): o primeiro europeu devorado pelos canibais no Brasil. Toda a cultura européia foi devorada pelo Novo Mundo, comida e digerida para educar e instruir Calibã e para fazê-lo tornar-se em um poeta que reescreve e inventa finalmente a literatura do mundo de todos os mundos: “Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem: a aventura humana.” (pp. 33-34)[10].

George Lamming, escritor anglófono de Barbados, publicou em 1960, uma coleção de ensaios com o título Os prazeres do exílio[11]. É a narração da história de um homem e sua liberação; em um dos textos do livro Lamming propõe uma reescritura de A tempestade. Lamming emigrou para a Inglaterra, dunrate o fluxo da Grande Emigração dos anos 50, das “Índias Ocidentais” – Jamaica, Barbados, Trinidad, Antigua, Tobago – para a ex-metrópole, Londres, favorita do Nationaly Act inglês do 1948, que equiparava os habitantes das colônias aos cidadãos britânicos. No livro, Lammig afirma que preferia o nome “Caraíba” àquele de uso inglês, ou seja, Índias Ocidentais. Edward Kamau Brathwaite, também de Barbados, retoma, anos depois, o tema de Calibã na trilogia The Arrivants: a new Trilogy (1993).

O poeta e crítico cubano Roberto Fernández Retamar, dedicou uma longa e progressiva investigação e reivindicação da figura de Calibã com protótipo da literatura do Novo Mundo e de todos os mundos oprimidos. Seu trabalho está compilado no volume que recolhe trinta anos de pesquisa e discussão intitulado Todo Caliban (2000).

Em 1969, Aimé Césaire publicou Une Tempête. Théâtre. D’après de Shakespeare. Adaptation pour un théâtre nègre, que busca “responder” ao teatro europeu usandoa resposta de Calibã – “enclave nègre”/escravo negro, para Césaire, enquanto que para Shakespeare é “a salvage and deformed slave”/um escravo selvagem e deformado – em nome de todos os negros do mundo.

Convoquei os poetas mencionados, através do “mito” moderno de Calibã, para propor a ideia de que eles renovaram, sem que nós, na Europa o supuséssemos , a possibilidade de pensar e praticar o senso e o valor da literatura mundial durante o Novecentos. Enquanto Auerbach citava com tristeza— não apenas por si mesmo, mas por mim também— “ o mundo como exílio” ao fim do ensaio de 1952, os “ povos negros” das Antilhas, do Brasil, de Louisiana e da África, enviados para a morte nas guerras mundiais como os “tirailleurs senegalais”, pensavam um mundo mais Just e solidário que o dos brancos, e pensavam-no também para nós.

Afirmo, enfim, que a “Literatura do mundo” nasceu na modernidade quando os povos subjugados e ofendidos pelos europeus começaram a ler e a escrever. E, assim, permitiram a todo mundo o mesmo. Todos nós chegamos a compreender quem é Calibã, que é qualquer um de nós, se através da leitura pudermos conquistar esse dom.

Depois de quatro séculos, pois A Tempestade é datada entre 1611 e il 1612, quatro anos antes da morte do Bardo– Edward W. Said, um comparatista e “aluno” de Auerbach e di Vico, mas também de Foucault e Gramsci, escreveu Culture and Imperialism[12].

Entre a maldição de Calibã e a posição do comparatista ocidental-oriental da segunda metade do século XX, transparece diante de nossos olhos um claro movimento de mundialização das literaturas nacionais e das mentes individuais; uma visão, progressiva e liberatória, que os grandes burgueses europeus não poderiam ter. De fato, Said afirma, a propósito de Fanon:
“A sua mensagem é: devemos lutar para liberar a humanidade inteira do imperialismo; devemos narrar a nossa história e a nossa cultura reescrevendo-as de um novo modo; tudos nós compartilhamos essa mesma história, ainda que para alguns de nós ela tenha sido sinônimo de escravidão.”[13]

De italiano europeu com uma consciência mundialista, transformei-me, nos últimos 20 anos, chegando a pensar que a “Civilização ocidental” branca – a que está no título do poema de Neto – inventou o Orientalismo, para avizinhar-se do mundo oriental, conforme ensinou Edward W. Said[14]. Enquanto que a “civilização ocidental” escura – a que submetemos e escravizamos, a que pagou pelo nosso desenvolvimento, inventou uma literatura de protesto e os Estudos Culturais, dos quais Said e tantos outros que são lembrados e celebrados nesses escritos, são os mestres. O Orientalismo tem sido e é uma instituição imaginária e um modismo do saber, os Estudos Pós-coloniais (mesmo já começando a sofrer da erudição e da síndrome da academia Norte-Americana) e as literaturas dos mundos, formam a consciência crítica do protesto de Calibã e da esperança sacra di Agostinho Neto.

O leitor, visto que já exposto a essa dupla visão, poderá fazer a escolha acertada. De um lado, a literatura que através da crítica fala a si mesma de um modo ainda eurocêntrico; e do outro, a literatura em uma perspectiva mundialista, destinada a cada um de nós e a todos, ao mesmo tempo. Importa reafirmar que a perspectiva oferecida por uma literatura mundial deriva do movimento de descolonização e nos levará a dignidade de falar e ler, para podermos, então, sentir e reconhecermo-nos e traduzirmo-nos finalmente na “Pátria” comum que se chama “Mundo”.

Adendo:
Em 1983 organizei uma antologia crítica sobre a literatura mundial, intitulada La letteratura del mondo, pubblicada em 1984 pela editora Carucci, de Roma. Aquele livro inaugurou o meu ensino de Literatura Comparada na Università dgli Studi di Roma, La Spienza. No início, como dedicatória, estava escrito:

“Este livro é dedicado aos meus alunos: àqueles distanciados no tempo, imersos agora em seu próprio destino, que ainda conservam uma recordação de nosso encontro; àqueles que lhe estão próximos, em torno da sua existência material; àqueles que ainda virão, até aqueles que – espero – ainda não nasceram.”

Este artigo, eu dedico àqueles e todos os demais, de 2010, ano em que escrevo, retrospectivamente, em direção ao passado. Se meu primeiro contributo foi revestido do eurocentrismo, este demonstra que, no contato com os estudantes, colegas estrangeiros e amigos imigrantes, aprendemos juntos a nos descolonizarmos. Nada mais próprio, portanto, que, em minha despedida da vida acadêmica, eu faça essa nova dedicatória.



[1]Usamos a tradução italiana de Regina Engelmann do livro Philologie der Weltliteratur/ Filologia della letteratura mondiale, organizado por Enrica Salvaneschi e Silvio Endrighi, com o texto em alemão à frente, Book Editore, Castel Maggiore (Bo) 2006, p. 41. A tradução livre em português é da tradutora do artigo.
[2] Si vedano i lavori in Italia di Sandro Mezzadra, che ha introdotto questa scuola di pensiero in Italia curando il volume di R. Guha e G. Ch. Spivak, Subaltern Studies. Modernità e (post)colonialismo, ombre corte, Verona 2002 e pubblicando poi il suo La condizione postcoloniale, ombre corte, Verona 2008.
[3] É um grande princípio de virtude que a mente se exercite, primeiramente aos poucos, para mudar estes lugares visíveis e transitórios, para então ser capaz de abandoná-los. É débil a pessoa para quem a pátria ainda é doce. É forte aquele para quem qualquer país se torna sua terra natal, mas é perfeito aquele para quem o mundo inteiro é lugar de exílio (Tradução de Shirley Carreira).

[4] Ver a minha abordagem de “Principio Antropico Cosmologico” – John D. Barrow e Frank J. Tipler, The Antropic Cosmological Principle, 1986, tr. it., Il Principio antropico, Adelphi, Milano 2002 – em L’educazione del te, cit.
[5] Ver o meu texto, “Qui êtes vous? ne el reino de este mundo?” em Decolonizzare l’Italia, cit. O título deste ensaio é composto por frase interrogativa – dirigida a nós, europeus, por Aimé Césaire – que se conecta por meio de um ne em italiano com o título de um livro do escritor cubano Alejo Carpentier, de modo que os títulos são evocados em seu idioma original.
[6] Ver o ensaio “Decolonizzare l’Italia” na obra homônima. A este ajunto o que escrevi por ocasião da recepção da medalha de prata pela resistência lingüística, em sua primeria edição, em 25 de abril de 2010, disponível em:
http://vozeshibridas.blogspot.com/2010/07/in-occasione-del-conferimento-della.html



[7] Também colaborei com os Institutos de Literatura Mundial da Academia de Ciências de Budapeste, Bratislava e Skopje. Pode-se encontrar um fruto exemplar dessa colaboração no volume organizado por mim e pelo comparatista eslovaco Dionýz Ďurišin, Il Mediterraneo. Una rete interletteraria, Bulzoni, Roma 2000. Nos anos 80 e 90 do século passado era importante collaborare com os colegas comparatistas da Europa central, dando suporte à pesquisa e difundindo os resultados. Ainda é, para os fins de manutenção de uma circulação virtuosa e justa do saber comum, em um tempo em que é comum, ou, assim se espera, de união européia, mas essa é uma tarefa amarga e difícil para os países periféricos e ex-comunistas.
[8] Dire la verità. Gli intellettuali e il potere, tr. it., Feltrinelli, Milano 1995, Representations of the intellectual, 1994.
[9] Introdution à une poétique du divers, Gallimard, Paris, 1996, pp.16-17

[10] La cultura cannibale. Oswaldo de Andrade: da Pau-Brasil al Manifesto antropofago, organizado por Ettore Finazzi-Agrò e Maria Caterina Pincherle, Roma, Meltemi,1999.
[11] Allison and Busby, London: 1960.
[12] Culture and Imperialism, A. A. Knopf, New York 1993; Cultura e imperialismo. Letteratura e consenso nel progetto coloniale dell’Occidente, tr. it., Roma, Gamberetti, 1998
[13] Op. cit., p. 302.
[14] Orientalism, tr.it., Bollati Boringhieri, Torino 1991, poi Feltrinelli, Milano.
Texto originalmente publicado na Revista e-scrita, v. 2, da UNIABEU.

sábado, 3 de julho de 2010

In occasione del conferimento della Medaglia d’argento per la Resistenza linguistica

Ogni qual volta sono stato invitato all’estero a parlare, in convegni accademici o per lezioni e conferenze, da quindici anni a questa parte – ora ne ho sessantaquattro – ho proposto di parlare in italiano, e non in inglese (il francese è ormai diventata una lingua di degustazione elitaria). Se mi si obbliga a parlare in inglese, rinuncio al viaggio.

La mia lingua è l’italiano, infatti, ed è quella che conosco meglio di tutte le altre. L’italiano è l’unica lingua nella quale posso veramente esprimermi al meglio: questa è la ragione necessitante della mia forma di resistenza.

E ancora: l’uso dell’inglese, inteso come lingua franca e come lingua di una ipotetica comunicazione “universale” tra gli utenti di tante lingue diverse, produce una mistificazione e una oppressione. Alla cui onnipotenza si può opporre solo una resistenza linguistica, non solo locale, ma da diffondere ovunque. Nel campo accademico, nel quale tale resistenza dovrebbe di più farsi valere, la battaglia è perduta. Negli ultimi tempi in Italia ogni anno aumentano i corsi di laurea i cui insegnamenti sono impartiti in inglese. E gli studenti di Lettere ormai pensano le parole italiane e straniere, anche quelle di lingue neolatine, attraverso i calchi dell’inglese.

Ritengo che sia ancora più grave la situazione in cui l’inglese faccia da lingua “comune” e salva-comunicazione tra due lingue “lontane”, ad esempio, tra italiano e arabo. La lingua inglese, in questo caso, rappresenta in senso pieno un “terzo incluso(si)” che serve a collegare lingue che, da un punto di vista coloniale, vengono ritenute lontane, non comunicanti e completamente “straniere” tra di loro. L’inglese si propone come la terza lingua che fa da collante e da salvatrice “universale”. In verità, essa è superflua e inaccettabile. Perché è inaccettabile? Perché è una lingua alla quale nessuno di noi appartiene, né io che parlo, né chi mi ascolta. In casi simili – come quelli che mi sono capitati recentemente a Casablanca e a Il Cairo – chiedo l’assistenza operativa di un traduttore tra le due nostre lingue, l’italiano e l’arabo, alle quali apparteniamo: io, lui o lei e il pubblico. Ci unisce il nostro stare insieme nelle nostre due lingue mediante un “interprete” che permette una comunicazione diretta e autentica, anche se mediata dalla traduzione. Che però è più intrinseca al rapporto tra le nostre due lingue rispetto alla mediazione della terza lingua. Nel caso della traduzione non viene invocata la potenza di uno “spirito santo terzo” sceso dall’alto a indicarci la verità per poterci intendere attraverso la sua lingua. Attraverso la traduzione nessuno tradisce le proprie lingue, nessuno ne invoca una superiore, ma tutti stiamo nelle migliori condizioni della comunicazione attraversata dall’unica mediazione interculturale necessaria, che è proprio e soltanto quella della traduzione. La traduzione è l’unica lingua universale che non sia una lingua, né naturale né artificiale. La traduzione è il rimedio assolutamente umano a ciò che deve essere successo a Babele.

Nota: alcuni miei libri e diversi miei scritti in italiano sono stati tradotti in varie lingue: il portoghese e il porto-brasiliano, lo spagnolo e l’ispano-cubano, il gallego, il francese, l’inglese e l’anglo-americano, l’ungherese, lo slovacco, il serbo, il rumeno, il macedone, l’arabo-egiziano, il mandarino-cinese. Questo piccolo tesoro di traduzioni – che va da una lingua nazionale-locale come il gallego a due lingue “mondiali” come l’inglese e il cinese – dovrebbero rendere soddisfatto del proprio lavoro ogni studioso di letteratura. In quanto il pensiero-lingua in italiano è stato tradotto in lingue diverse.

armando gnisci

25 aprile 2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Centro

Centro
armando gnisci

Università degli Studi di Roma "La Sapienza"


...ita res accendent lumina
rebus
Lucrezio


“Nascere in terra di camorra […] significa avere un vantaggio, portare su di sé un marchio impresso a fuoco che ti orienta a considerare l’esistenza un’arena dove l’imprenditoria, le armi, e persino la propria vita sono solo ed esclusivamente un mezzo per raggiungere denaro e potere: ciò per cui vale la pena di esistere e respirare, ciò che permette di vivere al centro del proprio tempo, senza dover badare ad altro.” Così scrive Roberto Saviano, nel suo romanzo-saggio-reportage Gomorra. Viaggio nell’impero economico e nel sogno di dominio della camorra (p. 294; sottolineatura mia)1.

Stare, anzi, sportarsi al centro del proprio tempo, è forse l’unico modo per poter pensare oggi qualcosa come il centro, senza dover subito chiedere: il centro di che? La misura “ideale” per allocare il centro nella nostra mente che si interroga oggi sul significato delle parole è l’individuo che arriva a sapere di sapere di aver conquistato il centro del proprio sé per proiettarlo sul proprio tempo. Il tempo di ora che mi sento arrivato al centro dove si arriva solo se vuoi il centro, che non sta da nessuna parte se non in questa capsula centrale della propria volontà di potenza diventata potenza di comando, mediante il cumulo consustanziale di denaro e potere che forma e porta la mia immagine al centro. Il camorrista è, a sua volta, il simulacro e lo specchio di ogni conquistatore-governatore che conquisti il suo centro e lo imponga a tutti.

I vari “centrismi” dai quali 2 proveniamo: il terracentrismo, l’eliocentrismo, l’antropocentrismo, l’eurocentrismo il nazionalcentrismo, sono liquefatti sui margini, e scoppiati, alcuni già da tanto tempo, dentro il buco nero del nonsenso: siamo diventati tutti liquidi e periferici, passando per orbite opache e senza fuoco, cometarie a tempo indeterminato, più che planetarie. Voliamo verso altrove, senza meta, orari, e appuntamenti. In questo caos-mondo (Glissant) è diventato centro immaginato la dimensione immateriale del “nostro tempo”; e questo significa il passaggio che ognuno compie nella durata precaria e imprevedibile della propria esistenza. Il nostro tempo non
conosce più la comunità e la mutualità (inter se mortales mutua vivant, scriveva Lucrezio)..

A questa desolazione del centro – una terra dalla quale è andato via da molti giorni il sole ed è rimasta immondizia/Waste – bisogna reagire aprendo “nuovi centri”, dove gli umani vivano delle cose comuni, tra loro e con le altre specie e con le cose che si illuminano a vicenda passando attraverso “la rete infinita delle reciprocità”, come scriveva Sartre nell’Introduzione a I dannati della terra di Frantz Fanon, per arrivare a quel “mondo del Tu”, pensato proprio da Fanon, e non da un prete cristiano o da un filosofo ebreo, nelle ultime righe di Pelle nera, maschere bianche.
Un mondo così non ha centro, è un Tutto-Mondo, come dice Glissant, letterato martinicano come Fanon e Césaire, in cui si può arrivare, attraverso la luce lucreziana, a costruire una semplice e giusta “mente centrale”:

Di questa luce stessa, della mente centrale,
Facciamo un’abitazione nell’aria della sera

Tale che starvi insieme è sufficiente
Out of the same light, out of the central mind
We make a dwelling in the evening air,
In wich being there together is enough.


Scrive il poeta del XX secolo, Wallace Stevens. Una mente centrale somiglia alla relazione comunitaria dell’ubuntu, il concetto tradizionale bantu del centro che si produce dove si sta bene insieme. As you like it.

1 Milano, Mondadori, 2006. Perché cominciare a parlare del centro proprio con questa citazione? vi starete chiedendo. Perché in questa frase e nel libro che la contiene, un giovanissimo scrittore italiano ha sintetizzato, attraverso il racconto dell’orrore di fondo che tormenta la nostra “patria”, così come quello del nostro intero mondo, il senso oscuro della cosiddetta globalizzazione e il senso in chiaro del nostro tempo, il metallo urlante che vibra sotto il pavimento sia della ricchezza che della disgrazia, e il suo svelamento (un po’ come nella cinematografica trilogia epicofantastica di Matrix). E anche il senso inaudito che accomuna chiunque scelga di “dire la verità”, come sosteneva Edward Said, un comparatista palestinese che cerco di assecondare come posso. Questo pezzo di Saviano è per me illuminante per il modo in cui traduce il senso dell’arrivare a vivere come “padrone di sé stessi” – Platone dice così nelle Lettere – dentro il proprio tempo, però; che vuol dire: nella relazione tra sé e il mondo nel quale si è capitati a di vivere; capitati vuol dire: dalla nascita alla morte di chiunque sia (venga e vada) al mondo, tra le due porte misteriose e blindate dell’esistenza. Saviano traducendo il lato oscuro della forza, il rovescio perfetto del platonismo e del buonismo, la delinquenza camorrista campana, definisce in maniera ardita, ma massimamente adeguata, la condizione della coscienza di sé nel mondo umano, troppo umano di oggi. Insomma, la parte che ho corsivata del brano mi risulta icastica e fruttuosa. Essa permette di pronunciare e di riformulare il concetto di “maturità” (la Ripeness di Shakespeare, tanto ansiosamente amata da Pavese) perché possa essere declinato dentro l’oscillazione massima possibile della specie: dal polo del sapiente platonico-santo cristiano a quello del camorrista mondiale del XXI secolo. Meno male che c’è un estremo solamente umano da poter vivere, anche se è il più aspro. Meno bene che il camorrista sia un tratto specifico e aggiornato della “identità” italiana oltre che della sua immagine, o metafora. Una identità criminale che imbratta e impanica le esistenze di tutti e che adombra tutte le altre che bramano centro.

2 Ho composto una rete da gioco di parole e concetti, nella quale pesano The Waste Land/La terra desolata,di T. S. Eliot, il sole (e l’insolazione circadiana) e l’immondizia [Waste]. Spero che sia digeribile. Del resto, unletterato scrive queste cose, che sono concrete allegorie e simulazioni, finzioni e bagattelle, non astratte,però.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cesaria Évora

O português é a língua oficial de Cabo Verde, utilizada em toda a documentação oficial e administrativa. É também a língua das rádios e televisões e, principalmente, a língua de escolarização.
Paralelamente, nas restantes situações de comunicação (incluindo a fala quotidiana), utiliza-se o cabo-verdiano, um crioulo que mescla o português arcaico a línguas africanas. O crioulo divide-se em dois dialetos com algumas variantes em pronúncias e vocabulários: os das ilhas de Barlavento, ao norte, e os das ilhas de Sotavento, ao sul.

Ouvir Cesaria Évora nos faz pensar no sentido da palavra híbrido.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Letteratura comparata oggi

armando gnisci

Di cosa parliamo quando parliamo di Letteratura comparata
La nostra disciplina oggi
2009-2010



I’d love to learn how things got to be how they are
[Mi piacerebbe imparare come le cose sono arrivate ad essere ciò che sono]
Marilyn Monroe

…ita res accendent lumina rebus
[È per questo che le cose accenderanno luci alle cose]
Lucrezio



Questo testo è stato scritto per tutti i miei allievi, perché ricordino che cosa abbiamo studiato insieme dal 1983 in poi; per i miei studenti dal 2009 fino al 2016 – anno in cui dovrei andare in pensione, se non sarò scomparso prima – affinché sappiano con certezza che cosa stiamo studiando e studieremo ancora insieme; ai miei colleghi, affinché, se vogliono, possano conoscere fin da ora, in breve, che cosa ho studiato in tutti questi anni nei quali non ci siamo incontrati se non nei corridoi o a qualche convegno. Non posso dimenticare tutti i miei, anche se pochi, lettori per caso o da me sconosciuti, o addirittura impensabili. Li saluto, assicurando loro che sono nei miei pensieri. Ho sempre scritto per la gioventù, ossia per i cittadini in formazione. Dopo tanti anni di insegnamento lo so con certezza.
Questo testo è, infine, un esempio di un pezzo di ricambio del sapere della repubblica. Con la parola repubblica intendo esattamente ricordare il significato antico, ma rimosso e rimpianto, di cosa e/è bene comune. Le parole democrazia e politica sono ormai svuotate di senso comune, anzi sono inquinate dalla menzogna e dalla volgarità comuni, nel nostro presente in Italia.


Una disciplina universitaria oggi (21 agosto e seguenti, 2009) non costituisce più e soltanto un sapere scientifico-critico istituzionale e accademico – “accademico” vale a dire, nel migliore dei significati e delle pratiche possibile, quel processo coevolutivo di ricerca e di insegnamento, assieme – che si interessa di un proprio oggetto di conoscenza sempre meglio distinto e descritto a partire da e attraverso i suoi “manuali”.
Che siano i rapporti tra le letterature nazionali, ad esempio, o la linguistica ugro-finnica, il Manierismo nelle arti, o la chirurgia del piede, ad essere studiati, il termine-concetto di disciplina, se lo consideriamo dalla parte di chi la pratica e la aumenta e accresce, significa “settore della conoscenza istituzionale condiviso a livello internazionale”. Una disciplina, inoltre vive nelle società e in quelle cosiddette democratiche dovrebbe garantire la certezza del sapere, così come la magistratura garantisce la certezza del diritto.
Sostengo che, nel corso della sua evoluzione, a partire dal tempo iniziale dell’Accademia platonica e aristotelica, fino agli ultimi decenni del secolo XX e a quelli della prima decade del XXI secolo, una disciplina sia diventata sempre più una regione vasta di incontro mondiale di studiosi e studenti che praticano un sapere più o meno specifico, e un presidio di storia, di libri e strumenti, di teorie e di metodi, di pratiche, di acquisizioni e di aggiornamenti continui e rapidi dentro l’orizzonte di una comunicazione planetaria sempre più fitta e raffinata; e infine, anche e inevitabilmente, una corporazione-consorteria accademica, nella quale però sciamano scuole di pensiero, tendenze e poetiche diverse e diversamente orientate e interconnesse. Esse vanno e vengono in un continuo movimento che consente riconoscimenti e confronti, verifiche e falsifiche. Devo aggiungere, comunque, che questa definizione di transitorietà non rappresenta né sostiene l’esistenza di una vera e propria trasformazione generale e totale di tutte le discipline conosciute e accettate, una specie di rivoluzione globale di tutti i paradigmi delle conoscenze, anche se il Novecento è stato un secolo che ha portato una rivoluzione, ancora non conclusa, in tutti i campi epistemici, scientifici e tecnologici. Voglio dire, più semplicemente, che il nostro approccio a un panorama generale del sapere comprende discipline nuove, discipline morte e moribonde, discipline ferme e discipline che marciano secondo una apertura e una spinta dinamica, critica e progressiva.
Se accettiamo volentieri questa sintesi, essa non solo va riconosciuta come semplice e succinta sistemazione dell’esistente, ma, al tempo stesso, va intesa e praticata in senso implementare e migliorativo, come valore augusto [valore che aumenta valore] di una complessità variegata e condivisa come tale in tutto il mondo e in tutti i settori della conoscenza.
Bisogna, cioè, accettare questa prospettiva valorizzante, transdisciplinare e planetaria, nella sua identità critica e comunitaria, nella sua responsabilità etica e politica e nella sua importanza distintiva rispetto alle altre discipline vicine e imparentate. Dopo la bomba atomica del 1945 e gli altri orrori del Novecento e dei tempi attuali, questo è il passaporto minimo richiesto agli operatori della scienza, e cioè del sapere di sapere che presiede le varie discipline umanistiche e non, ma che è anche raramente fornito e mostrato.

A questo punto, avviciniamoci e attardiamoci un po’ nei vasti dintorni delle discipline letterarie, e della Letteratura comparata, in particolare. La dicitura che segna questa nostra disciplina, che gli studiosi francesi della prima metà del Novecento intestavano come Littérature générale et comparée, sta a indicare, tuttora, uno studio in prospettiva mondiale e generale della letteratura.
Che cosa intendiamo dire quando parliamo di Letteratura generale e comparata in prospettiva mondiale, allora? Oggi, questa dicitura più lunga, ma da tenere a mente necessariamente, intende enfatizzare lo studio innanzitutto e costituzionalmente – nonché criticamente, sempre – della letteratura in una dimensione mondialistica, storica e transdisciplinare. Per noialtri italiani – e così rispettivamente per ogni continente di civiltà (civiltà, al plurale) che si riconoscano anche in una dimensione continentale – questo significa che la nostra identità letteraria nazionale va pensata immediatamente, da una parte, dentro la comunità letteraria europea e, dall’altra, mediante la comune lingua-storia-geografia che ci unisce e ci permette di leggere pensare parlare e comunicare, in quanto italiani.

In questi ultimi anni, gli italiani sono stati portati e invitati più volte a interrogarsi, se non a riconoscersi, in una possibile complementarità della propria, sempre plurale e mobile, identità in una figura sudeuropea-mediterranea. Sono stati a far questo, credo soprattutto – oltre i discorsi intellettuali come quello della “teoria meridiana” di Franco Cassano, della mia poetica della creolizzazione e della poetica transnazionale della mediterraneità napoletana di Iain Chambers, e quelli di tanti altri scrittori – i destini delle avventure dei migranti albanesi e kurdi, prima e poi africani, del nordAfrica mediterraneo e figli di ex colonizzati da Mussolini e Graziani provenienti dal Corno d’Africa (eritrei, etiopi e somali) approdati presso di noi, respinti dai poliziotti della nostra patria ridotta a una fortezza leghista nordista e razzista, o morti, tanti, e sepolti nel cimitero marino del canale di Otranto, e in quello della Sicilia, tra Malta e Lampedusa. Destini guardati con gli occhi sempre più indifferenti e incarogniti degli italiani “legati”. Una testimonianza esemplare di questa triste vicenda è offerta dal servizio del direttore de “la Repubblica”, Ezio Mauro, del 26 agosto 2009, dal titolo “Un anno, 4 mesi e 21 giorni viaggio dalla morte all’Italia”, che inizia in prima pagina e continua in seconda e terza. Mauro ha trascritto in maniera egregia i racconti di due cittadini eritrei dei cinque che si sono salvati in Sicilia da un barcone che ha attraversato il Canale mediterraneo tra la Libia, Malta e l’Italia, lasciando in mare 73 cadaveri.


La dicitura burocratica ed ufficiale usata per legge in Italia al fine di designare la nostra disciplina – ma non giustificata, né in sede legiferante e burocratico-ministeriale, né criticamente dagli accademici preclari coinvolti, anche se accettata implicitamente da tutti, ma non da me – è quella, bizzarra, di “Letterature comparate”, al plurale. Essa andrebbe bene se vivessimo in un mondo in cui esistessero solo e innanzitutto letterature nazionali più o meno ben distinte in corpi rigidi e blindati – cadaveri, autrement dit [è francese, e vuol dire “detto altrimenti”] – con molte servette che stanno loro d’intorno, tra le quali ce ne è una che li spolvera divertendosi a compararli. Viviamo, invece, anche se in Italia, in un mondo complesso e totale – in un Tout-Monde, come scrive il poeta martinicano Édouard Glissant – che somiglia alla così detta “letteratura mondiale”, che è quella concretamente letta e percepita da tutti noi soprattutto in traduzione e più o meno simultaneamente sul pianeta, e alla Letteratura generale e comparata, che è la disciplina che la studia e la insegna. E la letteratura mondiale e la letteratura comparata somigliano al mondo, perché lo traducono, presso ognuno di noi e presso una comunità planetaria di tutti-insieme.
Sto usando un ragionamento che tratta dal fondo i fatti della storia, tanto da farmi sostenere che la nostra disciplina, fin dalla sua nascita franco-tedesca tardo-settecentesca, possa riconoscersi nella sua successiva intestazione germanica che ha una valenza e una legittimità mondiale di “Scienza generale e comparata della letteratura”: Vergleichende Literaturwissenschaft. Non si tratta di proclamarsi “madre” della conoscenza letteraria, ma di praticare l’idea di una vera e propria “Repubblica mondiale delle Lettere” (dove “Repubblica” vuol dire “cosa comune a tutti”). Aggiungo che nelle altre lingue europee occidentali – imposte, tra l’altro, e diffuse in tutti i continenti attraverso il colonialismo e il modernismo – la nostra disciplina si è declinata sempre al singolare, come già sappiamo per il francese e per il tedesco, e poi: Comparative Literature, Literatura comparada. Potremmo affermare che sia nel grande continente verticale del Nuovo Mondo che dovunque e altrove su questo pianeta nessuno pronunci l’esistenza di un sapere che porti il nome di Letterature comparate al plurale; e forse, in questa sfortunata singolarità, noialtri italiani siamo unici al mondo; tanto quanto unici siamo nel dare del lei, la terza persona dei pronomi personali al femminile, invece che del tu-voi, a chiunque ci si presenti. Anche a un orco.

Questo pensiero derivante da uno straniamento linguistico che rende noialtri comparatisti molto affini con gli autori-poeti della letteratura, è la fonte di composizione del mio L’educazione del te, Roma, Sinnos 2009. Per quanto riguarda gli orchi, una stirpe malvagia che è scesa in Italia nel 1994 e da allora ne ha addirittura preso il governo e appestato la mente di una grande maggioranza di abitanti, ho lanciato da molti anni il mio augurio: “In bocca all’orco!” – invece di “In bocca al lupo!”, ovviamente. A tale augurio di buona fortuna, si risponde “Crepi l’orco evviva il lupo!”.


Proviamo, a questo punto, a cercare di definire e a intendere quali siano oggi i rapporti tra la Letteratura Comparata [da ora in poi, LC] e gli Studi Postcoloniali [da ora in poi, SP].
Perché mai e perché proprio questi rapporti? chiederete. Perché stiamo parlando della Letteratura comparata oggi, alla fine dell’estate del 2009 e la questione della distinzione dialettica tra LC e SP che vi propongo di trattare, anche se velocemente, serve a illustrare e a discutere proprio quanto di importante e di attuale succeda letterariamente oggi nel mondo, e della dinamica turbo di certe discipline e di cosa andiamo studiando e discutendo quando parliamo di Letteratura come studium [passione e applicazione, al contempo; i greci per “applicazione” dicevano áskesis].
Parto dall’ipotesi di lavoro – nel corso della quale scorre la mia poetica – che LC sia una disciplina che da tempo vada evolvendo attraverso le condizioni di esistenza, di legittimità e di operatività ad apertura dinamica e critica che ho sopra enunciate. E che gli SP siano la più famosa e aggiornata tra le ultime scuole-mode di ricerca culturale internazionali, e allo stesso tempo una poetica nuova mondiale di quelle che entrano e che escono dalla area disciplinare di LC, attraversandola tanto spesso da finire con l’abitarla in modo abbastanza abituale. Gli SP, infatti, sono studi che prolificano da alcuni anni in tutte le università del mondo usando, nella maggior parte dei casi, dei cliché anglisti di una ricerca, ormai molto sicura di sé e già ripetitiva, che si avvale degli Studi Culturali e di quelli Interculturali, degli Studi Postcoloniali in senso stretto, degli Studi Femminili in quantità essenziale e dei Translation Studies (in italiano, Studi di Traduttologia, pesante-parola-container).
Con questo fardello e con questo armamento gli SP intendono porsi, e vanno ponendosi sempre di più, in una postazione egemonica e antropofagica, minacciando di ingoiare la LC, dichiarandola più o meno apertamente passatista, superata ed eurocentrica.
Bisogna ricordare anche il fatto che tutti i giovani ricercatori italiani-anglisti nel mondo, se non fanno ricerca nel campo medico o in quello scientifico e tecnologico, sembra che lavorino preferibilmente nel settore dei PS, in Inghilterra, negli USA, in Australia, in Canada ecc.
Esponente esemplare e addirittura portatrice della soluzione finale di questa offensiva egemonica è la teoria d’assalto che proclama la “morte di una disciplina (la letteratura comparata, appunto)” lanciata qualche anno addietro dalla studiosa indo-statunitense Gayatri Chakravorty Spivak .
Se si segue il mio punto di vista e di ragionamento, Spivak sembra che non faccia morire niente, perché la LC estinta non corrisponde alla sua descrizione: quella di una disciplina accademica eurocentrica, moribonda o malata terminale, ma, al contrario, essa si afferma sempre di più come una disciplina che si trasforma in maniera esemplare, riconoscendo criticamente e produttivamente il proprio cammino mentre lo fa. Aggiungo, da Roma: perfino dove e quando si trovi in condizioni accademiche subalterne e arretrate come in Italia .
Perché? Perché LC indica che il proprio cammino disciplinare si ispira a una emancipazione epistemica, critica e storica che trasforma costantemente in filosofia metodica e in un surplus di valore che si aggiunge alla progressività normale della conoscenza scientifica.
Insomma, mentre da molto tempo l’astrologia è diventata una chiacchiera riconosciuta, più o meno da tutti, e mentre le discipline che prendono titolo dai manuali (storici) delle letterature nazionali diventano sempre di più dei nosocomi, la Letteratura comparata si è trasformata nella rete mondiale di un sapere aperto e vigile, nella quale escono e entrano vecchi bacucchi allievi di allievi di Arturo Graf (ce ne sono ancora?), o di Horst Rüdiger, piccoli teorici allupati, più o meno giovani studiose postcolonialiste anglofone di Varsavia e di Kuala Lampur, studiose di traduttologia australiane e texane, semiologi del gossip e dei disastri e altri ancora, e tanti altri molto molto positivi .
Starete certamente pensando: questo prof tira troppo l’acqua al suo mulino, come sempre e come tutti, del resto. Tutte le discipline si attrezzano, si difendono e si propagandano più o meno in questo modo. E allora? Non si vede perché la LC dovrebbe avere prerogative speciali, uniche addirittura. E poi, Spivak che cosa dice esattamente nel suo libro e che effetto ha avuto nel mondo il suo testo? E perché dovrebbe avere ragione gnisci e non Spivak?
Bene, bene [mi sto fregando le mani, anche se fa molto caldo, si suda e le zanzare-tigri fanno raid micidiali sul mio corpo]. Risponderò solamente alle due ultime domande (perché sono le due domande che mi avete fatto).
L’effetto del libro di Spivak – lungi dal procurare la morte ad alcuna disciplina – è stato quello per cui le postcolonialiste-angliste del mondo sbavano per poterla avere nel proprio Dipartimento a fare una conferenza, e per cui tutte parlano di lei in tutti i convegni e tutte la citano nei loro paper scritti [i paper sono i testi delle relazioni a un convegno che poi diventano testi stampati nei libri o altrove].
Perché dovrei aver ragione io? Provo a dirlo, anzi a ripeterlo con qualche dato e qualche delucidazione in più: la LC dal secondo dopoguerra mondiale ad oggi, come tante discipline che avevano avuto successo negli USA anche per il lavoro di illustri professori fuggiti o emigrati dall’Europa – da Auerbach a Poggioli, da Jakobson a Wellek a H.H.H. Remak e a tanti altri; poi sono arrivati in USA studiosi da tutto il mondo: cinesi, vietnamiti, caraibici, sudamericani, arabi, indiani, africani, come Bhabha e Spivak, Glissant, Ngugi wa Thiong’o, Edward Said, Walter Mignolo, Peter Carravetta ecc. – si è trasferita e diffusa in tutto il mondo. Nel 1997 fui invitato in Cina ad aprire il Congresso dei comparatisti cinesi con una relazione plenaria su globalizzazione e letteratura mondiale (non su Boccaccio o D’Annunzio… Gli studiosi cinesi nel 97 erano già più di 900). Sostengo, poi, che la LC sia, senza timore alcuno di esagerare, la disciplina più mondialista nel campo letterario, e anche la meglio decolonizzata rispetto all’eurocentrismo, insieme all’antropologia culturale.
Direi che è troppo difficile controbattere a questo argomento, descrittivo di una situazione reale e ben conosciuta nel mondo accademico letterario planetario e dello, come dire?, spirito dei tempi nostri.
LC ha iniziato dal secondo dopoguerra a superare criticamente il proprio eurocentrismo, innanzitutto riconoscendolo e decostruendolo attraverso un dibattito transculturale e intercontinentale, prima degli studiosi europei con quelli statunitensi e canadesi, e poi mondiale, con cinesi e giapponesi, africani e americani centrali e meridionali, indiani e arabi. Il nostro dibattito non si è svolto e non si svolge soltanto su questioni settoriali e specifiche (la mela e la cipolla nelle opere di Petrarca e Rabelais, o in quelle di Petrarca e di Neruda ecc.) ma su tutte le questioni letterarie messe in questione da parte di tutti. Il dibattito non era e non è tra filologi e letterati, ma tra di essi e i linguisti, i filosofi e gli antropologi, gli storici e altri ancora.
Personalmente, sono orgoglioso di aver partecipato a questa avventura a partire dagli inizi degli anni 80 e di contribuire ad agitarne ancora fruttuosamente le acque, anche se vivo in esilio in Italia .
Ancora, la LC ha introdotto dentro i propri studi e nella propria agenda disciplinare un motore interculturale, dopo una prima vita eurocentrica, come ha mostrato Franca Sinopoli nel suo saggio introduttivo del 1997 al Manuale storico di letteratura comparata.
Va enfatizzato il fatto che la LC abbia deciso di creare una agenda mondiale e democratica del proprio cammino e del proprio destino e che in questa agenda abbia messo, fin dal Rapporto Bernheimer del 1993, la questione della sua identità disciplinare in una società multiculturale . Da allora si può constatare come la situazione della disciplina sia evoluta in questa direzione leggendo dopo il libro di Spivak quello del giovane comparatista nordamericano di Yale, Haun Saussy, (editor) Comparative Literature in an Age of Globalization, del 2006 .
La LC ha innescato criticamente una revisione e una verifica continua dei suoi poteri nel momento in cui ha deciso di pensarsi e di volersi quale una disciplina tipicamente mondiale nella consistenza e nella pratica, e mondialista nella proposta dei propri valori. Nello stesso tempo, ha costantemente messo in crisi le altre discipline dello studio letterario (la stilistica, la storia della critica letteraria, la teoria della letteratura, la sociologia della letteratura, le storie delle letterature e le filologie delle letterature nazionali e transnazionali – come, ad esempio, la filologia romanza o quella germanica) tenendo sotto inchiesta le loro pretese e i loro poteri, o i loro privilegi e i loro sonnellini.

N. B.: Disciplina mondialista non equivale a disciplina cosmopolita o a disciplina nomade, etichette molto di moda al giorno d’oggi. Ma su queste quisquiglie ci intratterremo un’altra volta.
Ho letto pochi giorni fa una lunga intervista a un giovane e formidabile direttore d’orchestra venezolano, una star già mondiale a meno di trentanni; sosteneva che lui e tutti i musicisti dei Caraibi e dell’America latina suonano Beethoven e gli altri grandi maestri europei non come opere-monumenti, ma con lo spirito di chi sta interpretando una musica scritta la settimana prima. Lo stesso mi pare che capiti talvolta, ma in senso opposto, quando i direttori d’orchestra europei e nordamericani interpretano l’opera di musicisti popolari come Astor Piazzola nei grandi concerti “classici”. Penso a Daniel Barenboim e a pochi altri, ma avevo dimenticato per un attimo che Barenboim è argentino.

La storia dice che l’attitudine all’autocritica mondiale solerte e fruttuosa ha portato la LC a promuovere ed accogliere nei suoi Dipartimenti statunitensi, canadesi e inglesi, soprattutto, gli SP, dando una cattedra a Spivak e a tanti altri studiosi stranieri e a diversi antropologi. Come sempre, invece, l’Italia è ultima anche in questo settore; le sue giovani ricercatrici e ricercatori di LC devono per forza cercare asilo nei paesi anglofoni, e non solo in quelli.
Infine, sostengo che il profilo storico-evolutivo di LC mostri e rappresenti il migliore esempio di un rapporto giusto tra una disciplina letteraria e il proprio tempo, una relazione che trova il suo impeto verso il presente e vivo e verso il futuro, e non solo verso l’antico, per celebrare Sofocle e Li Po, Cervantes e Bashō. Che, comunque, vengono celebrati e ravvivati costantemente e con gioia, oserei dire.

Lavorare per il presente e vivo – che è un calco al maschile di un’immagine dall’“Infinito” di Leopardi – e per il futuro è quanto ho fatto come comparatista. Nel 1984 esordii con un manuale antologico su La letteratura del mondo, Roma, Carucci. E nel 2010 pubblicherò con Nora Moll e Franca Sinopoli un nuovo manuale introduttivo all’attuale dibattito planetario sul concetto di Letteratura mondiale. Nel 1984 quel libro antologizzava i testi da Goethe al secondo Novecento. Ancora, nel 1991 scrissi e nel 1992 pubblicai Il rovescio del gioco, Roma, Carucci, che scopriva e analizzava il fenomeno inaudito degli scrittori migranti (dall’Africa) che scrivevano e pubblicavano in Italia. Ho lavorato sul presente per il futuro, così anche quando, rispondendo al desiderio di molti allievi, nel 1990 scrissi un libretto di Appunti per un avviamento allo studio della Letteratura generale e comparata. Loro stessi – Silvia Morganti, Franca Sinopoli e Antonio Cammarota – ne curarono la redazione trascrivendo la registrazione delle lezioni del mio corso dell’anno accademico 1988-1989, fino alla edizione, Roma, Carucci 1991. Cammarota scrisse, inoltre, un pregevole saggio bibliografico collocato alla fine del breve volume. Allora, sono sicuro, non immaginai che sarei diventato uno scrittore accademico “manualista”, piacendomi la reputazione (un po’ artistica) di saggista. Alcuni anni dopo, nel 1997, con Franca Sinopoli preparai il Manuale storico di letteratura comparata presso l’editore Meltemi e nel 1999, con un magnifico gruppo di allievi, confezionai il manuale disciplinare di Introduzione alla letteratura comparata, che poi divenne Letteratura comparata alla seconda edizione ampliata del 2002, presso Bruno Mondadori (tradotto in spagnolo e in macedone, attualmente in traduzione in arabo a Il Cairo).

Prima di chiudere questo discorso di apertura di un anno accademico, farò cenno alla visione mondialistica della nostra disciplina, alla quale ho fatto riferimento più volte in questo discorso come al suo carattere precipuo.
Mi servirò di uno schema molto semplice, con due tratti paradigmatici. Il primo è dato dal NEM. La sigla acronima significa: Nazione-Europa-Mondo, una sequenza apparentemente logica e naturale, ma insidiosamente stereotipata e ideologica. Facciamo luce su questa diagnosi: a Nazione sostituite la nazione di ognuno di voi; la maggioranza darà sicuramente il riconoscimento di: Italia. Che la letteratura vada studiata innanzitutto e doverosamente come la propria letteratura nazionale, dalla scuola media inferiore a quella superiore fino all’università e oltre è un dato di fatto della storia delle nazioni europee e in particolare della nostra. Ma se ci pensate un po’ e in maniera straniante, però, vi accorgerete che nessun italiano legge libri di letteratura seguendo la storia letteraria italiana e i suoi secoli e periodi: da san Francesco a Dante e poi Petrarca ecc. Se così fosse alcuni di noi a novantanni starebbero dalle parti di Parini e non arriverebbero mai a leggere le Cosmicomiche di Italo Calvino o le poesie di Montale e di Caproni. Tutti noi veniamo al mondo della letteratura cominciando a leggere le favole dei Grimm e quelle italiane raccolte da Calvino, Andersen e Gaarder, il mago di Oz e Piccole donne, i libri di Scarry e il leggero e misterioso piccolo principe e poi qualcuno ci regalerà Lovecraft (io lo regalo) e Asimov, il giovane Holden e i tre moschettieri; e poi scoprirete Kafka e Flaubert, Virginia Woolf e Jane Austen, Dickens, Tolstoj e tutti, tutti gli altri, fino a Saviano e a Banana Yoshimoto. È questa la vostra vera e propria “storia letteraria”, di ognuno di voi, di noi, lettori forti, che a novantanni si nutrono di Ingerborg Bachmann e di Thomas Bernhard, di Cormack McCarthy, di Szymborska, di Pennac, di Calvino (ancora lui? Sì! Perché?).
E allora? Come stanno le cose? E l’Europa che c’azzecca? Direi poco, è una parola per attrarre i gonzi, è molto opaca. E Mondo? Niente. Nel mondo ci stiamo già. Si vabbe’, ma come? In che senso? Che significa?...che facciamo?
Ragazzi, basta cambiare sigla e paradigma e l’opaco sparisce. Usiamo adesso il secondo tratto: MEN, invece di NEM. Non si tratta di un dopobarba. È l’acronimo inverso: Mondo-Europa-Nazione(Italia). È l’acronimo praticato e promosso – sì, promosso!, perché? avete dubbi? perplessità ecc.? – dalla LC.
Il Mondo è la nostra patria: lo dice Dante Alighieri nel De vulgari eloquentia (I, VI,3)
NOS AUTEM, CUI MUNDUS EST PATRIA VELUT PISCIBUS EQUOR
[Traducete da soli, o cercate la traduzione]
Non infierisco oltre.
Europea è la nostra mente.
Italiana è la nostra lingua-storia.
MEN ci serve per pensare e studiare fuori dall’opaco, nella luce che le cose mandano alle cose, come dice Lucrezio. MEN ci induce a pensare in maniera mondialista da europei di lingua italiana.
Il MEN è una proposta della LC.

Ricordo che LC nel nostro caso, si trova dentro la Facoltà di Lettere e Filosofia dell’università della Sapienza di Roma, dove è trattata come una disciplina, diciamo così, collaterale della Italianistica e lavora dentro un Dipartimento di Italianistica e Spettacolo; didatticamente opera all’interno di un corso di laurea triennale di “Letteratura Musica Spettacolo” e di un corso di laurea magistrale, o specialistica, di “Letteratura e Lingua. Studi italiani ed europei”. Essa è presente anche nel patrimonio di discipline del Dottorato di Italianistica.
Avviso gli studenti che non ci si laurea in LC se non si va all’estero. Per questo abbiamo attivato in questi anni diversi accordi di scambio europei ed extra-europei:
Accordi internazionali della cattedra di Letteratura Comparata, che interessano gli studenti e i dottorandi:
Erasmus, Coimbra, Paris3, Coventry-Warwick, Nitra (Slovacchia), Castilla-La Mancha, Santiago de Compostela, Colonia, Losanna
Altri: Helwan-Il Cairo
Appunto paralipomeno

Le due citazioni che stanno lontano da qui ormai, sotto il titolo e prima dell’inizio di questo testo si chiamano, nel linguaggio colto dei letterati laureati, exerga o epigrafi [insegnatelo anche al vostro pc], termini antichi, greco-latini, che significano “fuori del testo” o anche frasi lapidarie, motti ecc.; l’inizio di un testo, ancora nel liguaggio letterario e retorico, si chiama incipit.
Forse di fronte a loro e prima di cominciare a leggere il testo, siete rimasti un po’ disarmati o perplessi, o infastiditi o basiti, o tristemente impressionati o indifferenti come nello zen da seduti o soddisfatti perché vi è sembrato di aver capito finalmente che cosa è e come si manifesta un pensiero (o una facezia) postmoderna, o ecc., trovandoli lì inattesi e in una coniugazione imprevedibile e bizzarra, Monroe prima di Lucrezio. E forse, srotolando la vostra lettura lungo il cursus – cercate di tradurre voi questo termine erudito, che a me piace molto – del testo, avrete capito da soli, si fa per dire, di certo assieme, perché ho messo Marilyn Monroe insieme con noi e vicina al grande poeta latino, ma prima di lui. [In verità ho anche manomesso un po’ la traduzione dei versi dal De rerum natura del mio amatissimo Tito Lucrezio Caro. Ita, infatti, è tradotto da tutti, sempre e giustamente con “Così”, anche da me, ma in questo caso ho interpretato ad hoc l’avverbio modale antico con una espressione più lunga e accomodata, che però l’Ita latino sopporta perfettamente e amabilmente. Amabilità sorprendente sempre dei “classici”!].
I loro – di Marilyn e di Lucrezio – due motti formano un modello – direi critico e sentimentale – di come si possa costruire e mettere insieme un pensiero partecipe e mutuo, femminile-maschile, moderno-antico, vecchio-nuovomondo, desiderio di conoscenza e educazione della conoscenza, esigenza-corrisposta. Ciò che Marilyn desiderava era di conoscere il farsi e il diventare delle cose quelle che sono di fronte alla premura della conoscenza di chiunque e ognuno, e Lucrezio mostra – come Kant poi farà modernamente nella famosa clausola finale della Critica della Ragion Pratica [KPV, in tedesco] – che le cose manderanno e mandano incessantemente luce alle cose e che l’occhio di mezzo che vede la luce tra di noi e ne parla, e la indaga e la traduce e spiega a tutti, fa avanzare e diffondere così il sapere, mettendosi in mezzo. E insieme.
Il filosofo epicureo siriano-palestinese Filodemo di Gadara, vivente e operante a Ercolano nello stesso periodo di vita di Lucrezio, nel I secolo avanti l’Era Volgare, ha scritto che “dobbiamo salvarci l’un l’altro”, prima che il palestinese Gesù – Nazareth è attualmente in Israele – predicasse che la salvezza era possibile solo attraverso di lui. E che la Chiesa cattolica si impadronisse del pacco intero .

Ripeto: Questo libello è stato scritto per tutti i miei allievi, perché ricordino che cosa abbiamo studiato insieme dal 1983 in poi; per i miei studenti dal 2009 fino al 2016, anno in cui dovrei andare in pensione, se non sarò scomparso prima, affinché sappiano con certezza che cosa stiamo studiando e studieremo ancora insieme; ai miei colleghi, affinché, se vogliono, possano conoscere fin da ora, in breve, che cosa ho studiato in tutti questi anni nei quali non ci siamo incontrati se non nei corridoi o a qualche convegno. Non posso dimenticare tutti i miei, anche se pochi, lettori per caso o da me sconosciuti, o addirittura impensabili. Li saluto, assicurando loro che sono nei miei pensieri. Ho sempre scritto per la gioventù, ossia per i cittadini in formazione. Dopo tanti anni di insegnamento lo so con certezza.
Questo testo è, infine, un esempio di un pezzo di ricambio di sapere della repubblica. Con la parola repubblica intendo esattamente ricordare il significato antico, ma dimenticato, di cosa e/è bene comune. Le parole democrazia e politica sono ormai svuotate di senso, anzi sono inquinate dalla menzogna e dalla volgarità comuni, nel nostro tempo in Italia.

Bibliografia

Iain Chambers, Mediterranean Crossing. The Politics of an Interrupted Modernity, 2007; Le molte voci del Mediterraneo, tr.it. di Sara Marinelli, Milano, Raffaello Cortina 2007
Dýoniz Ďurišin e a. gnisci (a cura di), Il Mediterraneo una rete interletteraria, Roma, Bulzoni 2000
Édouard Glissant, Tout-monde, Paris, Gallimard 1993; Tutto-Mondo, a cura di Marie-José Hoyet, tr.it. di Geraldina Colotti e M.-J. Hoyet, Roma, Edizioni Lavoro, 2009
Éd. Glissant, Introduction à une poétique du divers, Paris, Gallimard 1996; Poetica del diverso, tr.it. di Francesca Neri, Roma, Meltemi 1998
armando gnisci e Franca Sinopoli, Manuale storico di letteratura comparata, Roma, Meltemi 1997
a. gnisci (a cura di), Letteratura comparata, Milano, Bruno Mondadori, 2002 (1ª edizione, 1999)
a. gnisci, “What we Europeans talk about when we talk about Postcolonialism”, in Jadavpur Journal of Comparative Literature, n. 44, 2007, pp. 7-20, Department of Comparative Literature Jadavpur University Calcutta (N.B.: la fotocopia di questo articolo è disponibile per gli studenti e per i colleghi interessati, basta chiedermela, non per email, però)
a. gnisci, Decolonizzare l’Italia, Roma, Bulzoni 2007
a. gnisci, L’educazione del te, Roma, Sinnos 2009
a. gnisci, Nora Moll, Franca Sinopoli, Introduzione allo studio della Letteratura mondiale, Milano, Bruno Mondadori 2010
Nora Moll, Ulisse tra due mari, Isernia, Cosmo Iannone 2006
Nicoletta Pireddu, “Between the Local and the Global: Comparative Literature in the Land of Dante”, in Recherche Littéraire/Literary Research, vol. 25 – Summer 2009, pp.26-33 (N.B. la fotocopia di questo articolo è disponibile per gli studenti e i colleghi che fossero interessati, basta chiedermela; non per email, però)
Haun Saussy, ed., Comparative Literature in an Age of Globalization, Baltimore, J. Hopkins UP, 2006
F. Sinopoli, (a cura di), Il mito della letteratura europea, Roma, Meltemi 1999
F. Sinopoli, (a cura di), La letteratura europea vista dagli altri, Roma, Meltemi 2003
F. Sinopoli, La dimensione europea nello studio letterario, Milano, Bruno Mondadori 2009












Uma língua para todos

Seminario Creolo

Vídeo do primeiro encontro do Seminario Creolo, realizado na Università degli Studi di Roma, por iniciativa e organização do Prof. Dr. Armando Gnisci.


http://www.uniroma.tv/?id_video=14577

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A representação do outro em tempos de pós-colonialismo

A representação do outro em tempos de pós-colonialismo: uma poética de descolonização literária

Shirley de Souza Gomes Carreira


Recentemente, ao ler um artigo do Prof. Dr. Armando Gnisci , da Universidade de Roma, intitulado “A descolonização que não passa”[1], pus-me a refletir sobre o real sentido do termo “pós-colonial”, bem como sobre as críticas ferrenhas que lhe têm sido feitas contemporaneamente.
Em primeiro lugar, creio ser necessário mencionar a origem do termo e o modo pelo qual atingiu um tal destaque, a ponto de tornar-se uma vertente de estudos acadêmicos. O prefixo “pós” não nos deixa dúvida alguma acerca do conceito em si. “Pós-colonialismo” pressupõe, com certeza, “o que ocorreu, ou ocorre, após o colonialismo”. O problema, na realidade, está na origem dessa idéia de posteridade.
Academicamente, o termo “pós-colonialismo” se reporta a uma série de estudos centrados nos efeitos da colonização sobre as culturas e sociedades colonizadas, que podem ser interpretados como parte da teoria pós-modernista, que busca trazer à baila as vozes das culturas e dos segmentos sociais periféricos. Essa busca de “descentramento”, segundo os teóricos do pós-modernismo, é uma tentativa de “ouvir” as “margens”, incluindo-se aí, todas as minorias raciais, as mulheres e os homossexuais.
Os estudos culturais, fundamentados nas idéias de globalização, democratização e contextualização, passaram a ocupar nos anos 80 e 90, na esfera acadêmica internacional, mas, sobretudo, nos Estados Unidos, o espaço das discussões teóricas, traçando as diretrizes dos estudos literários e humanísticos, que foram acatadas por muitos como um campo profícuo de investigação, muito embora tenham sido, igualmente, rejeitadas por outros tantos.
Os assim chamados “estudos pós-coloniais” focalizam, portanto, as manifestações culturais, entre elas a expressão literária, das nações que conquistaram sua independência após um longo período de dominação política e cultural.
A nossa proposta é questionar o conceito a partir do rótulo que ele cria. Admitir um estado pós-colonial é, conseqüentemente, pressupor que o colonialismo teve um fim. Se examinarmos detalhadamente a história recente dos países que sofreram o processo de colonização, com certeza chegaremos à conclusão de que, em muitos deles, a colonização ainda não terminou. Pelo contrário, ela continua e não só nesses países, mas persiste também na proposta de globalização, cuja forma de domínio se esconde sob a idéia de uma aparente igualdade.
Escritores e críticos de projeção internacional têm sumariamente rejeitado a adoção do prefixo “pós”, por interpretarem-no como uma perpetuação de uma visão segregacionista, que cria, com o rótulo, uma espécie de gueto cultural, onde ficaria alocada a produção crítica e literária oriunda dessas culturas.
Ainda que não queiramos admitir, vivemos e sobrevivemos sob o domínio de um imperialismo detectável na orientação política internacional e na própria formação do cânone literário.
Salman Rushdie, em sua coletânea de ensaios Imaginary Homelands
[2], rejeita veementemente o rótulo de “literatura pós-colonial”, por ver nele uma forma de raciocínio que não abandona os conceitos de “centro” e “periferia”. A oposição entre o conceito de “identidade” e “alteridade” está no âmago da relação entre colonizador e colonizado, na interpretação dos critérios de igualdade e diferença.
Sendo um dos muitos escritores migrantes do nosso século, Rushdie reivindica o direito de não ser excluído de nenhuma parte de sua herança, isto é, ele quer ter o direito de ser tratado como um membro da sociedade britânica, porém sem ter de abdicar do direito de debruçar-se sobre as suas raízes, a India de sua juventude, como qualquer membro da comunidade pós-diáspora a que pertence.
Para ele, ser imigrante e, principalmente, escritor implica a consciência de que o indivíduo migrante é dono de uma subjetividade que é, ao mesmo tempo, plural e parcial.
Se a distância física de sua terra natal o faz construir uma pátria imaginária, ou melhor, uma Índia invisível, fruto de sua memória e da nostalgia de expatriado, a consciência da perda da pátria real permite o desenvolvimento de uma distância crítica.
A representação do “outro”, em tempos de pós-colonialismo, conforme este tem sido concebido e interpretado, promoverá sempre um processo de exclusão, uma vez que o “eu” ao qual todos os outros se opõem é exatamente o ex-colonizador.
O que Rushdie, assim como o Prof. Gnisci, propõe, de fato, é que haja uma desconstrução da antinomia eu/outro, uma vez que não se pode empregar um rótulo comum para expressar aspectos culturais tão diversos quanto, por exemplo, os da Índia, dos países latino-americanos e dos países africanos.
A situação específica do escritor migrante faz da criação literária um exercício social e político por meio do qual ele busca encontrar novos ângulos de aproximação da realidade.
Um dos fatores a serem levados em consideração é a questão da apropriação do idioma da pátria de adoção.
No caso da Inglaterra, particularmente, a grande onda migratória ocorreu nas décadas de 50 e 60 e, independentemente do seu país de origem— seja ele a Índia, o Paquistão, ou mesmo o Kuwait— todos os imigrantes do Oriente Médio recebem o rótulo de indianos.
Conforme Rushdie faz questão de enfatizar, o rótulo de escritor indiano é tão amplo que abriga exilados políticos, imigrantes da primeira onda migratória, expatriados com residência temporária, indivíduos naturalizados e, até mesmo, os descendentes de imigrantes, que jamais puseram os pés fora da Grã-Bretanha.
Todos eles escrevem em inglês, o idioma do país que os acolheu, mas o fazem de um tal modo que seus textos refletem não só a luta real contra o estigma do “outro”, como a luta interior entre duas culturas.
Adotar o idioma do colonizador não significa aceitar o papel de colonizado, uma vez que, ao reinterpretar a cultura de seu país de origem nesse idioma, o escritor migrante inicia um processo de tradução cultural. Rushdie se autodenomina um “homem traduzido”.
Armando Gnisci (1999) insiste em afirmar que o processo de descolonização passa pela desconstrução dos modelos de dominação que têm orientado não só os estudos culturais como também uma boa parte dos estudos literários contemporâneos. Baseado nessa afirmação, ele opõe o conceito de “Literatura Global”, que é orientada pelo mercado e pela indústria de cultura de massa, ao conceito de “Literatura dos Mundos”, uma literatura de resistência, que recusa o processo de assimilação que lhe é imposto, em prol do reconhecimento da diversidade cultural. Essa literatura é o locus do diálogo entre os “mundos”, isto é, entre indivíduos de etnias e heranças culturais diversas.
Foi Edward Said (1993) quem demonstrou com clareza o vínculo entre as literaturas européias e o colonialismo. Ao tentar compreender e interpretar o Oriente, o europeu criou uma imagem especular, desenhando a imagem do próprio rosto. A representação dos povos orientais foi feita segundo o olhar hegemônico do Ocidente e serviu para consolidar o domínio das nações imperialistas. Não foi por acaso que a teoria pós-colonial surgiu justamente nos meios acadêmicos dos países que, no passado, ocuparam a posição do colonizador.
Para Gnisci, o olhar da academia deveria estar direcionado para essa “Literatura dos mundos”, que revela a capacidade da literatura de traduzir-se e traduzir os mundos, a pluralidade dos discursos e das culturas que se aliam contra a globalização e que mantêm entre si um diálogo aberto através das migrações, das hibridações, da mestiçagem: aquilo que Édouard Glissant denomina “crioulização”.
O primeiro passo na direção da descolonização literária seria a rejeição ao prefixo “pós” e o reconhecimento de que as ex-nações imperialistas ainda não renunciaram ao papel do colonizador. O segundo talvez seja iniciar um processo de auscultação dessas vozes que se insurgem e falam de experiências particulares e diversas, sob um ponto de vista que busca aliar a tradição à tradução, fugindo às visões exóticas e folclóricas encenadas pelo olhar hegemônico.
Em busca dos entre-lugares de onde surgem essas vozes, Gnisci dirige o seu olhar para o escritor migrante, que, escrevendo em um idioma que não é o seu, imprime sua marca e a de suas origens em uma literatura nacional que, não sendo originalmente sua, o absorve e incorpora, fazendo com que, na prática, a descolonização literária saia definitivamente das mãos do colonizador.
O caminho para a descolonização, que a literatura torna possível, é, portanto, o diálogo intercultural: um diálogo franco, realista, sem a “pátina” visionária de uma aldeia global que nos tem sido imposta e que nada mais é do que uma forma de dominação constituída sobre a assimetria das relações.
Ao traduzir-se, o ex-colonizado dá-se o direito de contestar as formas estereotipadas e preconceituosas criadas pelos colonizadores, denunciando os interesses ideológicos que nortearam as imagens em circulação. O seu desejo de independência é antes uma luta sobre o direito de representar o seu próprio passado, o que não significa, conforme Rushdie (1991:15) deixa claro, uma maior fidelidade a tal passado, uma vez que o novo entendimento também necessariamente terá de passar pelo processo tradutório.
Para finalizar, gostaria, ainda, de citar Armando Gnisci, ao dizer que “o destino das literaturas dos mundos consiste, talvez, na consciência de estar permanentemente em transição e tradução”
[3] e que a literatura é o único espaço onde todas as vozes se tornam audíveis a um só tempo.

Referências bibliográficas:

RUSHDIE, Salman. Imaginary Homelands. Essays and criticism 1981-1991. London:
Granta Books, 1991.
GLISSANT, Édouard. Introduction à une poétique du divers. Paris: Gallimard, 1996
GNISCI, Armando. Creolizzare l’Europa. Letteratura e migrazione. Roma: Meltemi, 2003.
_______Una storia diversa. Roma: Meltemi, 2001.
_______Poetiche dei mondi.Roma: Meltemi, 1999.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.Trad. Tomaz Tadeu da Silva e
Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP & A, 1998.
SAID, Edward W. Orientalismo. O oriente como invenção do ocidente. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001.
________ Culture and Imperialism. New York: Alfred A. Knopf, 1993.
________ Travelling Theory. Raritan: 3 (1982) , 41-67.
________"Narrative and geography". New Left Review, n.180, março/abril, pp.81-
100,1990.

[1] Texto publicado no número 6 da Revista Eletrônica da Unigranrio. http://unigranrio.com.br/letras/revista/index.html
[2] RUSHDIE (1991)
[3] GNISCI, Armando. La stagione presente e viva. Migrazione & Letteratura. Neohelicon. http://www.kluweronline.com/issn/0324-4652